Propina originalmente destinada ao PP teria financiado campanha de senador do PMDB
BRASÍLIA – A sofisticação do sistema de gerenciamento de propinas da Operação Lava-Jato permitiu a Alberto Youssef transferir um “crédito” originalmente destinado ao PP junto à construtora Queiroz Galvão para o financiamento da campanha do senador Valdir Raupp (PMDB-RO), segundo depoimento do doleiro incluído em petição entregue pela Procuradoria Geral da República (PGR) e transformada em inquérito pelo STF na sexta-feira.
O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, afirmou, em sua delação premiada na Lava-Jato, que “parte do dinheiro desviado e que fora acrescentado aos contratos da Petrobras foi repassado para a campanha do senador Valdir Raupp (PMDB-RO) em 2010”. Por esse motivo, o ministro Teori Zavascki, do STF, abriu inquérito para apurar as responsabilidades do senador no caso, na sexta-feira.
Segundo Costa, no primeiro semestre do ano daquela eleição, chegou até ele um pleito de R$ 500 mil para a campanha de Raupp ao Senado. De acordo com a PGR, o ex-diretor disse que fora o doleiro Alberto Youssef quem lhe informou de que Raupp havia solicitado esse valor.
Youssef disse a Costa, segundo este, que o dinheiro “fosse contabilizado da parte do ‘bolo’ devida ao PP”, ou seja, da fatia de 1% que era destinada ao Partido Progressista a partir dos 3% acrescentados aos contratos firmados com a Petrobras na diretoria de abastecimento.
Na avaliação da PGR, as declarações de Costa sobre Raupp “encontram-se em linha de sintonia com as prestadas por Alberto Youssef”. O doleiro afirmou que “foi efetuado pela empreiteira Queiroz Galvão doação oficial a Valdir Raupp, mas cujo valor na realidade se tratava de pagamento indevido decorrente de comissionamento de contrato firmado com a Petrobras”.
A PGR informou na petição a Zavascki ter elementos que aparentemente confirmam o teor das declarações, como a própria agenda de Costa. Nela, há identificação das iniciais WR, que seriam de Valdir Raupp, segundo o próprio Costa informou, destacando que pensava que o nome do senador iniciava com W. “Ao lado das iniciais da agenda consta o número 0,5, que significaria o repasse de R$ 500 ao político em questão”, destacou a PGR.
Segundo a PGR, em depoimento Youssef explicou como foi a negociação para pagamento. O doleiro disse ter recebido de Costa o telefone de contato e o valor a ser disponibilizado a Raupp. Segundo Youssef, uma assessora de Raupp foi a São Paulo, no escritório do doleiro, onde ele explicou a ela que o “tinha o crédito com a Queiroz Galvão” e que poderia ser feita a doação oficial. A assessora indicou, segundo o doleiro, o diretório do PMDB em Rondônia para o pagamento.
A PGR conferiu os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e verificou a existência de duas doações da Construtora Queiroz Galvão SA ao diretório estadual do PMDB de Rondônia em 2010. Para os procuradores, há “um conjunto suficiente de elementos a justificar a instauração de inquérito”
POR DANILO FARIELLO/oglobo.globo.com