A série “A Literatura Jaruense” encerra hoje com a publicação da história literária do escritor Elias Gonçalves. O encontro do escritor Elias Gonçalves com a literatura ocorreu no último ano do século XX de forma “inesperada”. Tudo começou, segundo recorda, com um trabalho escolar solicitado pela professora de Língua Portuguesa, Gracilene Nunes da Silva, quando a mesma ainda lecionava na escola Plácido de Castro, no município de Jaru. Gonçalves estava matriculado à época no 2º Ano do extinto curso de Magistério e ao apresentar a sua primeira poesia intitulada “Mulherada” foi bastante elogiado por boa parte dos estudantes e pela professora que havia pedido o trabalho.
Em virtude da grande repercussão da produção literária, o jornal local “A Notícia” reproduziu a poesia em sua segunda página da edição publicada no dia 21 de julho de 2000. Feliz com o resultado alcançado e, em uma tentativa de deixar o nome parecido com o do poeta Gonçalves Dias, Elias Gonçalves decide inverter o próprio nome e passa a assinar as suas poesias como Gonçalves Elias. A obra foi produzida com apenas três estrofes e narrou de forma bem-humorada a trajetória de uma mulher que sofreu diversos preconceitos da sociedade. Em certo trecho, Gonçalves destaca: “se é negra é discriminada; se sorrir, está mal intencionada; se é loira, de burra é chamada”.
Outra poesia do autor também ganhou as páginas do jornal “A Notícia” foi publicada na edição de 20 de outubro do mesmo ano. Intitulado de “O Amor”, segundo Gonçalves, os versos foram produzidos especialmente para uma estudante da turma que não teve o nome divulgado. O primeiro verso e, o mais “polêmico”, mesmo depois de anos, é bem objetivo: “lembro de uma coisa que fiz, em uma noite enluarada, você pediu bis e ficou apaixonada”. Em outra parte, a poesia apresenta de forma explícita como deve ser o amor na visão poética do autor: O Amor que proponho, será como no sonho / Para alcançar a felicidade / A sua, a minha, a nossa vontade. A certeza do amor correspondido pode ser percebida no trecho: “Você me disse que ia pensar, pensando que eu não descobrisse, pelo seu jeito de olhar”. Apresentando uma história em sete versos com início, meio e fim, não necessariamente nessa ordem, Gonçalves Elias procurou exaltar a beleza do amor entre duas pessoas que se amam de verdade e buscam concretizar esse relacionamento mesmo diante de muitos desafios.
Utilizando-se o nome Gonçalves Elias, o escritor escreveu ainda duas poesias com o nome “Brasil” e uma obra literária que aborda o problema das drogas, mas não foi publicada e ainda se perdeu no tempo. Com o seu humor peculiar, Gonçalves produziu cada poema com rima única. No primeiro deles todos os versos rimavam com “iu” e denunciavam o sofrimento do povo brasileiro. A última estrofe destaca: Algum tempo depois, Tiradentes existiu / Tentou livrar de Portugal esse Brasil / Mas logo teve fim, pois alguém o traiu / E o povo se calou, pois não podia dar um piu.
O outro poema com o mesmo título apresenta todos os versos rimando com o termo “ado” e também foi feito em três estrofes. Ao produzir a terceira estrofe, Gonçalves se imagina no lugar dos povos que viviam no Brasil do século XIX e termina explicando o motivo para se encerrar o texto poético: Chegou uma princesa para dizer que havia melhorado / E um documento logo foi assinado / A escravidão teria acabado / Um novo golpe estava para ser aplicado / O povo suspeitava, mas devia ficar calado / Quem falasse alguma coisa, estava lascado… E “temeroso” conclui: Vou parar por aqui, pra não sobrar pro meu lado.
Os trabalhos literários foram interrompidos drasticamente com o término do curso de Magistério em 2001 e só reacenderam em 2007 com o lançamento do livro poético “A História da Pedagogia ‘D’” em homenagem à turma em que o escritor cursou a primeira graduação. A obra foi considerada um marco na história do Programa de Habilitação e Capacitação de Professores (Prohacap) e da Universidade Federal de Rondônia, pois foi a primeira produção do gênero a prestar uma homenagem a todos os acadêmicos de uma turma específica. Nessa época, o autor volta a assinar o nome da forma em que fora registrado e procurou unir a personalidade profissional de cada acadêmico rimando de forma apropriada.
O segundo livro de Elias Gonçalves foi lançado no dia 11 de maio de 2013 no auditório da escola Capitão Sílvio de Farias e recebeu o título “Vivendo Nossa História”. A obra abordou com uma riqueza detalhes boa parte da história jaruense tendo como foco a biografia das escolas públicas do município, a política e algumas personalidades que se destacaram no cenário local. Diversas autoridades prestigiaram a solenidade de lançamento, entre elas, o último administrador do distrito de Jaru e primeiro prefeito nomeado do município, Raimundo Nonato da Silva, que veio à cidade especialmente para prestigiar o evento.
A repercussão do livro “Vivendo Nossa História” ultrapassou fronteiras. Meses antes de ser lançada, a obra foi publicada em alguns sites de Jaru e, em virtude da divulgação eletrônica, o autor conseguiu contato com Pedro Rohl, sobrinho-neto de Padre Adolpho Rohl, um dos religiosos que muito contribuiu com a difusão da fé católica na região. Pedro Rohl estava residindo na Argentina e repassou algumas informações extras que enriqueceram o processo de construção da história do padre em paralelo com a historicidade local.
Tão logo lançou o livro, o autor já começou a reunir os elementos necessários para a construção do trabalho seguinte. Todavia, compromissos profissionais impediram que o processo de pesquisa se iniciasse de forma imediata, embora as ideias estivessem sendo colocadas no papel. Em fase de pesquisa e escrita, a obra seguinte, Ilustres Heróis, começou a ser escrita em 26 de dezembro de 2014 e abordará com detalhes a história de Jaru com um enfoque a partir dos anos 1970 e dos distritos Bom Jesus, Santa Cruz da Serra e Tarilândia, além do sub-distrito de Jaru Uaru. Dezenas de visitas e entrevistas foram feitas com pioneiros de vários segmentos para que fosse construída uma produção contemporânea da história de Jaru. O autor retrata questões relacionadas a diversos temas, entre eles: a música dentro do contexto evangélico e secular, cultura, literatura, religiosidade, evolução territorial, meios de comunicação, política, educação, etc. A maioria dos assuntos tratados é inédito, algo que aguça ainda mais a curiosidade do leitor. O livro “Ilustres Heróis” ainda possui uma data oficial para ser lançado.
Fonte: Clemilson Rodrigues