Ao se referir à escrita da história de Jaru, um nome se destaca pelo pioneirismo dentro do assunto. Trata-se do mineiro Teófilo Lourenço de Lima, natural do vilarejo Fala Verdade, em Unaí (MG) e que chegou à vila de Jaru em agosto de 1976. As angústias geradas pelo novo, pela difícil mudança para as terras rondonienses, deram lugar ao encantamento com as belezas nativas de Rondônia, reveladas ao alvorecer do dia 10 de agosto, quando as belezas nativas e pouco vilipendiadas pela ação do homem se fizeram revelar. Nesta manhã, envolto às riquezas naturais que inebriavam o olhar, encontrou com seu pai, Sebastião Lourenço de Lima, que já residia em Jaru desde abril de 1971, vindo no afã colonizador iniciado nos anos 70 e, como milhares de outros brasileiros anônimos, buscava uma porção de terra onde pudessem gerar seu sustento e dos seus familiares. Se pai, após caminhar algumas horas na madrugada do dia 10 de agosto de 1976, chegara para guiar sua família, de quem por tantos anos estava separado, para a localidade que se fez seu lar até o ano de 1999, na Linha 603, Km 10, hoje a principal via de acesso da BR 364 aos municípios de Theobroma e Vale do Anari.
Seu contato com dura realidade dos anos 1970 em Jaru sempre fora mesclado pelo encantamento gerado das narrativas épicas de seu pai e por muitos seringueiros que frequentemente paravam na casa de seus pais, em busca de acolhida, quando de suas saídas para o então povoado de Vila de Jaru em busca de atendimento médico ou compra dos poucos produtos disponíveis para completar sua alimentação. Nessas ocasiões, parar para ouvir as histórias que contavam sobre os anos vividos na floresta isolados do mundo civilizado era um prazer indescritível, aguçando a mente ainda infantil que então enxergava muito mais a aventura que as dificuldades reais vividas por aqueles verdadeiros pioneiros. As dores por eles sentidas pelo isolamento na floresta davam lugar a fantasias, que acabaram por acompanhar sua trajetória literária e acadêmica, décadas mais tarde.
Em fevereiro de 1981, ingressara no serviço público federal, com lotação na recém-criada Secretaria Municipal de Educação – SEMEC, onde iniciou sua trajetória profissional sempre voltada ao ensino. Percebendo a riqueza da oralidade pioneira, iniciou com recursos próprios e com equipamentos emprestados o registro das histórias de vida dos pioneiros, definindo, ainda que empiricamente, grupos que representavam épocas distintas da história regional, destacando os verdadeiros pioneiros dos seringais, soldados da borracha, servidores públicos do INCRA (e extintos IBC, ACAR, SUCAN). Junto às muitas horas de depoimentos gravados, procurava reunir um acervo documental que comprovasse os relatos muitas vezes romanceados pela narrativa colorida da epopeia colonizadora de Rondônia.
Com o material coletado, sempre inspirado e encorajado pelo seu hoje falecido pai, iniciou a escrita do seu primeiro livro, “Do Monte Nebo a Jaru: Um passado a ser conhecido”, que traz na fotografia que ilustra sua capa a imagem de cacaieiros (colonos em caminhada em direção às futuras parcelas, onde seriam assentados conforme o programa de assentamento do Projeto Integrado de Colonização – PIC, do INCRA, em 1972).
“Do Monte Nebo a Jaru: Um Passado a Ser Conhecido”, como retrata em seu prefácio a eminente historiadora Yêda Pinheiro Borzacov (Historiadora, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Rondônia e da Academia de Letras de Rondônia), expressa informações históricas, valorizando a oralidade de Rondônia, fazendo recrudescer o interesse pelo regionalismo. Revela que a área delimitada pelo Estado de Rondônia é uma região de ocupação antiga. Do ponto de vista geográfico, caracteriza-se pela presença de florestas equatoriais, situando-se na parte Ocidental da Amazônia Legal. A sua situação geopolítica explica o seu processamento ocupacional, através de diferentes levas de população, impulsionadas pelos interesses dos mercados externos, ressaltando que ainda na época pré-cabraliana, a região foi palco de inúmeras migrações indígenas, conforme atestam dados de pesquisadores clássicos, tais como Alfred Métraux e Curt Nimuendaju.
Esta obra divide-a em dois momentos históricos, sendo o primeiro o “colonialismo à formação dos seringais”, retratando a conquista do Madeira e seus tributários, as primeiras transações comerciais promovidas pelo “regatão” e o injusto sistema de “barracão”, o comércio mundial da borracha, o crescimento, decadência e renascimento dos seringais, caracterizado pelo histórico segundo ciclo da borracha, com um capítulo que retrata a confirmação da colonização da região, com a linha telegráfica ligando o hoje Estado de Rondônia ao restante do Brasil, o surgimento do considerado fundador de Jaru, Ricardo Lima Cantanhêde, com a criação do Seringal Monte Nebo (mais tarde Seringal 70), a exploração mineral intensificada nos 60 e a abertura da BR-29 (Hoje 364). A segunda parte descreve com riqueza documental o declínio extrativista, a ocupação agrícola e os projetos oficiais de colonização capitaneados pelo INCRA.
Nesse momento de seu livro, documenta ricamente a evolução político-administrativa do PIC-PeAR, da condição de sub-distrito de Ariquemes, sua elevação à condição de distrito, até a sua emancipação administrativa e realização das primeiras eleições municipais, com o pleito de 15 de novembro de 1982, onde os candidatos Leomar José Baratela (pelo PDS com 2.544 votos), Francisnaldo Bezerra (PDS, obtendo 2.541 votos), Sidney Rodrigues Guerra (PMDB, com 3.230 votos), José Alves do Nascimento (pelo PMDB, com 794 votos), Vicente de Souza Ramos (pelo PMDB, com 676 votos) e Anedino Carvalho (pelo PT, com 322 votos) disputaram à vaga a Prefeitura, sagrando-se vitorioso nas urnas o candidato Leomar José Baratela.
Teófilo Lourenço de Lima segue sua obra com rápidas abordagens sobre momentos políticos do município, pincelando sobre todas as administrações municipais até o pleito de 2000, quando alguns personagens da história de Jaru, através do voto livre, voltaram a ocupar cargos nos poderes legislativo e executivo municipal, dentre eles o primeiro prefeito eleito de sua história, Leomar José Baratela, agora na condição de vice-prefeito.
Encerra sua obra evocando a ação de novos pesquisadores e historiadores, ao exarar que os fatos narrados em “Do Monte Nebo a Jaru: um passado a ser conhecido”, evidenciem que “[…] não só Jaru, mas cada vila e município do Estado de Rondônia, possa ser vista e pensada como um momento (recente!) da história de Rondônia, e não como o início de nossa história, como muitos insistem e ver…”
Depois desta obra, Teófilo Lourenço deu segmento à sua carreira pedagógica, onde ainda atua como professor universitário (em cursos de graduação e pós-graduação), e também à sua condição de pesquisador e escritor, tendo publicado vários trabalhos em eventos científicos, alguns em coautoria, orientado dezenas de trabalhos de conclusão de cursos de graduação e pós-graduação e publicado outros livros relacionados à prática da pesquisa, avaliação escolar e direitos fundamentais, este último como organizador.
Destacam-se na sua produção literária, além dos artigos, resumos e orientações acadêmicas, os seguintes livros:
1. Do Monte Nebo a Jaru: um passado a ser conhecido (História regional)
2. Por que o aluno cola? Reflexões psicopedagógicas sobre a avaliação (Psicologia da aprendizagem)
3. Manual básico para elaboração de monografias (Técnicas de pesquisa e apresentação de trabalhos acadêmicos);
4. Metodologia de pesquisa científica: Orientações para elaboração e apresentação de trabalhos acadêmicos (teoria e prática).
5. Direitos Fundamentais em Rondônia (organizador)
Depois de residir em Ji-Paraná desde 1989, para onde se mudou em busca de uma formação acadêmica, consolidação de sua formação acadêmica e onde ainda desempenha suas atividades profissionais, em agosto de 2012 voltou a residir em Jaru, cidade de onde nunca se desvinculou, por considerar, por humilde adoção, sua cidade mãe.
A Série A Literatura Jaruense publica na próxima semana a história literária dos seguintes escritores jaruenses: Conceição Aparecida Onésio (Professora Nina), Maurício Brito, Cristóvão Marques e Elias Gonçalves.
Fonte: Elias Gonçalves