Rio – A Polícia Federal faz, desde o inicio da manhã desta terça-feira, a Operação Placebo, que investiga desvios na área da Saúde do estado durante a pandemia do novo coronavírus (covid-19). Os agentes estão em vários endereços do Rio e de São Paulo, dentre eles o Palácio Laranjeiras, residência oficial do governador Wilson Witzel (PSC), na Zona Sul do Rio, para onde foram enviadas pelo menos cinco viaturas da PF.
De acordo com a investigação, há um esquema de corrupção envolvendo uma organização social contratada para a instalação de hospitais de campanha e servidores da gestão da Saúde do estado.
A ação é comandada pela Superintendência da Polícia Federal do Distrito Federal e pretende cumprir 12 mandados de busca e apreensão, 10 no Rio e dois em São Paulo. Os mandados foram expedidos pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Dentre os outros endereços em que os agentes estão no Rio, de acordo com a TV Globo, está:
. Centro: sede da Secretaria Estadual de Saúde e escritório do Iabas, responsável pela gestão dos hospitais de campanha do estado
. Botafogo: residência do ex-secretário de Saúde Edmar Santos, atual secretário extraordinário de Acompanhamento da covid-19 do Rio
. Leblon: residência do ex-subsecretário estadual de Saúde Gabriell Neves
. Grajaú: onde o governador morava antes de se ser eleito
. Endereços ligados à primeira-dama, Helena Witzel
De acordo com a PF, a investigação para a operação começou através de ações realizadas pela Polícia Civil e os ministérios Público estadual (MPRJ) e Federal (MPF). O material foi compartilhado com a Procuradoria-Geral da República (PGR), no âmbito da investigação sobre os desvios na Saúde do estado que está em curso no STJ.
Em nota, o governador Wilson Witzel nega participação em alguma das irregularidade investigadas; veja íntegra:
Não há absolutamente nenhuma participação ou autoria minha em nenhum tipo de irregularidade nas questões que envolvem as denúncias apresentadas pelo Ministério Público Federal. Estranha-me e indigna-me sobremaneira o fato absolutamente claro de que deputados bolsonaristas tenham anunciado em redes sociais nos últimos dias uma operação da Polícia Federal direcionada a mim, o que demonstra limpidamente que houve vazamento, com a construção de uma narrativa que jamais se confirmará. A interferência anunciada pelo presidente da república está devidamente oficializada. Estou à disposição da Justiça, meus sigilos abertos e estou tranquilo sobre o desdobramento dos fatos. Sigo em alinhamento com a Justiça para que se apure rapidamente os fatos. Não abandonarei meus princípios e muito menos o Estado do Rio de Janeiro.
O Dia tenta contato com os demais citados na reportagem.
OPERAÇÃO MERCADORES DO CAOS
No último dia 7, o MPRJ deflagrou a Operação Mercadores do Caos, que investiga R$ 1 bilhão em contratos firmados sem licitação pelo governo do estado para compra de respiradores, máscaras e testes rápidos para a covid-19. Na ocasião, o ex-subsecretário estadual de Saúde Gabriell Carvalho Neves Franco dos Santos e Gustavo Borges da Silva, então superintendente de logística, suprimentos e patrimônio da pasta, foram presos, dentre outras três. pessoas.
Neves havia sido demitido pelo governador Wilson Witzel no dia 20 de abril e exonerado no dia 11 de maio por suspeita de irregularidades em sua gestão. Já Gustavo Borges foi exonerado do cargo apenas quando aconteceu a segunda fase da operação, no dia 12.
A segunda fase da Mercadores do Caos contou com a Delegacia Fazendária da Polícia Civil (Delfaz) e mirou membros da empresa ARC Fontoura, de quem o governo do estado comprou 400 respiradores. Na ocasião, o dono da companhia, Maurício Monteiro da Fontoura, foi preso. Maurício Monteiro já havia sido alvo de mandado de busca e apreensão na primeira fase da operação.
Dos 400 ventiladores pulmonares comprados da ARC Fontoura, o governo do estado recebeu apenas 52. Os equipamentos, no entanto, não são indicados para o tratamento do novo coronavírus.
As irregularidades no contrato firmado entre a o governo do estado e a ARC Fontoura foram detectadas pelo Tribunal de Contas do estado (TCE-RJ). Além da empresa, outras duas companhias são alvos de investigação do TCE-RJ pela compra do mesmo aparelho: A2A Comércio e Serviços e Representações (300 ventiladores) e MHS Produtos e Serviços (300).
O dono da A2A Comércio e Serviços e Representações, Aurino Filho, foi preso na primeira fase da Mercadores do Caos.
OPERAÇÃO FAVORITO
No dia 14, a PF, o MPF e o MPRJ realizaram a Operação Favorito contra desvios nas instalações dos hospitais de campanha do estado. Na ocasião, foram presas mais de 10 pessoas, dentre elas o ex-deputado estadual Paulo Melo (MDB), e o empresário Mário Peixoto, que tem vários contratos firmados com o governo do estado na área da Saúde.
No dia 14, a PF, o MPF e o MPRJ realizaram a Operação Favorito contra desvios nas instalações dos hospitais de campanha do estado. Na ocasião, foram presas mais de 10 pessoas, dentre elas o ex-deputado estadual Paulo Melo (MDB), e o empresário Mário Peixoto, que tem vários contratos firmados com o governo do estado na área da Saúde.
Na ocasião, foram encontrados R$ 21 mil em espécie em um endereço da capital e R$ 1,589 milhão na casa de um dos alvos, em Valença, no Sul Fluminense.
O braço direito do governador Wilson Witzel, o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Lucas Tristão, foi citado em escutas autorizadas pela justiça durante as investigações. O nome de Tristão foi ouvido cem uma conversa monitorada pelo MPF, entre familiares de Peixoto, e teria participado de uma reunião na casa do empresário durante a quarentena.
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