O conhecido professor Sérgio Nogueira, aquele mestre bem humorado e integrante do quadro Soletrando, do programa Caldeirão do Huck, citou em uma de suas aulas na internet o seguinte exemplo, que viu certa vez num comercial de cerveja, estampado em um outdoor: “Se dirigir; não beba. Se beber; não dirija.”. E então ponderou que este é um uso indevido deste tal ponto e vírgula, assunto da presente edição desta coluna que leva o mesmo nome. Neste exemplo dado o correto seria assim: “Se dirigir, não beba; se beber, não dirija”.
Esta pontuação, caros amigos, deve ser adotada quando desejamos oferecer ao leitor uma pausa maior que a vírgula e menor que o ponto final. Ou seja, serve para quando parece que encerramos o assunto, mas ainda temos algo a dizer. Ao batizarmos a coluna de PONTO & VÍRGULA, pensamos nisso justamente: pontuar um momento de reflexão e uma pausa no corre-corre diário, para discutir questões acerca de nosso idioma português.
Há um texto divertido de Luiz Fernando Veríssimo sobre o uso do ponto e vírgula. Vamos a ele:
“(…) Mas tenho um temor e uma frustração. Jamais usei um ponto e vírgula. Já usei ‘outrossim’, acho que já usei até ‘deveras’ e vivo cometendo advérbios, mas nunca me animei a usar ponto e vírgula. Tenho um respeito reverencial por quem sabe usar ponto e vírgula e uma admiração maior ainda por quem não sabe e usa assim mesmo, sabendo que poucos terão autoridade suficiente para desafiá-lo. Além do conhecimento e audácia me falta convicção: ainda não escrevi um texto que merecesse ponto e vírgula. Um dia o escreverei e então tirarei o ponto e vírgula do estojo com o maior cuidado e com a devida solenidade o colocarei, assim; provavelmente no lugar errado. Mas, quem se importará? (…)”
O uso do ponto e vírgula pode ser um mistério para muita gente e também foi alvo da atenção do grande poeta Mário Quintana, que fez um poema, a esse respeito chamado “Comentário ouvido num bonde”. Um determinado verso diz assim: “ (…) Que moça culta Maria Eduarda: usa ponto e vírgula. (…)”.
Bom, vamos a algumas regrinhas básicas de quando e como usar este sinal de pontuação que não teve o mesmo destino do trema, este sim revogado pelo novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
- Use o ponto e vírgula antes de conjunções adversativas (entretanto; mas; porém; contudo; todavia) ou conclusivas (logo; portanto; por isso; por conseguinte). Exemplos: “Ele trabalha muito; porém, não foi promovido.”
“Os empregados iriam todos; por isso, não precisar ficar alguém no pátio.”
- Ele também serve para separar itens de uma enumeração, como já foi feito ao citar as conjunções acima. Também serve para separar elementos por grupos e aqui vai um exemplo: “O Brasil produz café, milho e arroz; ouro, níquel e ferro”.
- Serve também para itens de uma mesma explicação. Exemplo: “Os computadores podem acarretar duas conseqüências: uma é a redução de custos; outra é a demissão de funcionários”.
- Serve ainda para separar grupos de orações coordenadas com unidade de sentido: “Na linguagem escrita é o leitor; na falada, o ouvinte.”
- Aconselha-se, por fim, seu uso quando houver autonomia entre as partes que ele separa. “Kadafi diz que não renuncia; ONU autoriza ataque.”
Até a próxima dúvida, amigos!
Marcos Lock (*)
E-mails para esta coluna devem ser enviados para [email protected].
(*) Jornalista profissional, professor universitário e graduando do curso de Licenciatura em Língua Portuguesa e suas Literaturas, da Universidade Aberta do Brasil/UNIR.
Olá, amigos!
O português é uma língua complexa, mas não é considerada a mais difícil do mundo. Tenha certeza que grego, mandarim ou turco são idiomas bem mais intrincados para o aprendizado. No entanto, a todo momento, quando menos se espera, estamos tropeçando nas palavras e, não raro, surge uma dúvida “cruel”, aquela do falar diário que insiste em nos acompanhar e para a qual nunca temos uma resposta pronta e precisa. Para elucidar estas questões, estamos inaugurando a coluna semanal PONTO & VÍRGULA aqui no site RUL, com o intuito de dar explicações às dúvidas que insistem em se manifestar a qualquer instante. Esperamos que grande parte das abordagens seja providenciada a partir de perguntas dos internautas; outras serão selecionadas porque são, conhecidamente, “pegadinhas” consagradas. Também vamos trazer à discussão curiosidades da língua como a origem de algumas expressões corriqueiras (“casa da mãe Joana”, “a vaca foi para o brejo”, “tirar o cavalo da chuva” etc) ou os insistentes estrangeirismos, que não param de invadir nossos diálogos no dia a dia. Tudo isto, sem falar das gírias, assunto desta nossa primeira edição aqui no RUL. Sugestões, críticas e outras contribuições devem ser enviadas para o e-mail [email protected].
Marcos Lock (*)