Após serem totalmente esvaziados por conta da cheia histórica do Rio Madeira em Rondônia, dois distritos de Porto Velho, São Carlos e Nazaré, devem ser totalmente reconstruídos em um novo local, segundo a prefeitura de Porto Velho. A força da água carregou sedimentos, animais mortos, lixo e invadiu esgotos e fossas, soterrando a maioria das casas e contaminando a área. As mais de mil famílias destas comunidades aguardam, parte delas em abrigos, uma definição. Nesta quarta-feira (29), o nível do Rio Madeira está em 17,58 metros, conforme aferição da Agência Nacional de Águas (ANA), mais de dois metros abaixo do pico histórico registrado no dia 30 de março – 19,74 metros.
Mesmo após a água começar a baixar, os moradores continuam impedidos de retornarem a área que antes ocupavam. \\\”Todas as pessoas que tentaram voltar para lá, ficaram doentes\\\”, afirma Elarrat, sobre o risco de contaminação.
O pescador Elias Quason Ribeiro, de 71 anos, morador de São Carlos há 54 anos, diz que é uma ótima ideia não ficar perto da margem do rio. \\\”Apesar de viver da pesca, não consigo imaginar ter que passar por uma situação como esta novamente. Quero continuar tirando meu sustento do rio, mas não quero nunca mais viver tão perto e correr o risco de perder tudo de novo\\\”, desabafou o pescador. Elias disse ainda que, na semana passada, esteve em São Carlos para ver de perto como está a casa onde ele e a família moraram a vida toda. \\\”A casa não existe mais. Está totalmente soterrada. Acabou, acabou tudo! Uma verdadeira tristeza\\\”, afirmou.
A agricultora Emília da Silva Oliveira, de 53 anos, perdeu toda a plantação de mandioca. Ela diz que sonha todos os dias em poder voltar para a vida no campo. \\\”Aqui eu não estou vivendo. Passo todos os dias sem fazer nada. Isso está me matando aos poucos\\\”, lamenta a agricultora desabrigada.
Para solucionar o problema das 730 famílias de São Carlos e das 400 de Nazaré, duas áreas na margem direita do rio deverão ser revertidas para a construção das novas casas. Segundo a prefeitura, essas famílias devem ser atendidas pelo Plano Nacional de Habitação Rural (PNHR) do governo federal. No entanto, nem todas devem ser incluídas nesta alternativa por haver, por exemplo, funcionários públicos que moravam no distrito. \\\”Esse plano contemplam as pessoas que viviam de atividade rural. Por isso, as famílias que não forem atendidas receberão as suas casas da prefeitura\\\”, garante Elarrat.
Márcio Santana de Lima, de 39 anos, morador de São Carlos, decidiu liderar o movimento \\\’Prol Moradores de São Carlos\\\’. De acordo com ele, o projeto da Secretaria Municipal de Planejamento (Sempla) de transportar a comunidade para o outro do Rio Madeira para uma área mais elevada está sendo discutida há quase dois meses. \\\”Eles estão querendo nos enrolar. A idéia é demorar tempo suficiente para que os moradores voltem por conta própria. E já tem muita gente fazendo isso. O problema é que a maioria que voltou por conta própria pegou algum tipo de doença\\\”, enfatiza Márcio.
Elarrat garante que a prefeitura quer resolver o problema dos moradores o mais rápido possível. No entanto, ainda depende de recursos que devem ser liberados pelo governo federal para atender às famílias. Essas casas, explica o secretário, serão construídas de madeira e alvenaria. \\\”As famílias que serão beneficiadas com o PNHR terão as suas casas de alvenaria, mas que forem construídas pela prefeitura será de madeira\\\”, afirma o secretário.
Nesta quarta-feira (30), a administração municipal deve conversar com um dos proprietários do terreno para uma possível aquisição para a reconstrução dos distritos. \\\”Estamos fazendo tudo ao mesmo tempo: procurando a terra, fazendo chamamento público para compra de pregos, telhas. A madeira deve ser as apreendidas pelo Ibama\\\”, finaliza.
Fonte: G1